36 hours in Harrogate.

no final de outubro fizemos uma visita rápida à linda cidade de harrogate em north yorkshire por conta do aniversário de 50 anos de uma amiga muito querida do respectivo. pernoitamos no agradável Cedar Court Hotel – assim chamado por conta do imenso cedro do líbano no jardim.

É uma das minhas árvores preferidas:

quer dizer, o aniversário era apenas a desculpa ideal. o motivo principal da minha visita era comer um fat rascal na Betty’s of Harrogate, o salão de chá mais famoso do norte do país – a fila na porta demonstrando o conceito:

era hora do almoço e o restaurante estava lotado, mas como só queríamos chá e bolo o staff nos conseguiu rapidamente uma mesa no salão.

um dos meus HAPPY PLACES na vida: sentada numa mesa ao lado de um janelão com vista outonal aguardando bolo. e olha só, o fat rascal tem CARINHA:

essa quantidade de creme à parte (claro que eu pedi extra, que absurdo, etc.) estava tudo muito gostoso, do scone ao chá. esse bolinho aí embaixo nós pedimos por gulodice e dividimos (é preciso esticar a estadia num lugar tão especial), porém devo dizer que preferi os fat rascals mesmo.

as vitrines de halloween do Betty’s foram uma atração à parte.

já devidamente energizados fomos passear pela cidade. você sabe que mora numa área rica quando abrem uma filial do The Ivy na vizinhança:

sem contar as lojas de “antiques”, onde você descobre aquelas coisas que sua avó jogou fora em 1973 sendo vendidas aqui pelo equivalente ao PIB de um país em desenvolvimento.

e segue o outono:

eu já tinha visitado harrogate antes e lembro de ter ficado encantada com a arquitetura, os parques e praças, as avenidas largas em suave declive e o outono tão mais colorido que no sul (chegamos meio tarde esse ano). a cidade tem todas as amenidades básicas e as ocasionais lojas chiques – morar em harrogate custa caro e isso se reflete nas madames enroladas em jaquetas barbour passeando seus doguinhos com coleiras made by prada.

mas já estava anoitecendo e os parques iam ter que ficar para o dia seguinte.

because right now, it’s party time.

Nostalgia is a bittersweet drug.

toda segunda feira pela manhã o celular informa que o meu “tempo de tela” vem caindo a cada semana. o desktop ainda é ligado todos os dias, mas ao contrário das 20 tabs de costume eu deixo abertas no máximo três ou quatro – as necessárias para trabalhar, o pinterest e o reddit. tenho evitado redes sociais desde outubro; o clima pesado daquela tenebrosa eleição já se dissipou, mas o bode adquirido de pessoas e atitudes (que não poupou lado algum do espectro político) continua por aqui, pastando absorto. e estupefato. no que foi que nos transformamos?

ao contrário dos dois anos anteriores, 2018 não me trouxe nada de ruim. mas também nada de bom.

ok, exceto o gato 2018 não me trouxe nada, e talvez seja por isso que eu esteja um tanto quanto perplexa observando o calendário avançar para a última casa do zodíaco enquanto ao meu redor os projetos de tudo o que eu pretendia realizar nesses doze meses se acumulam em pilhas intocadas. estariam cheios de teias de aranha caso o gato não tivesse tomado para si a tarefa de desinfestar a casa do modo mais orgânico possível. burp.

a sensação de fracasso é desagradável, e para evitar preencher o vazio com comida ou auto-piedade eu trabalhei um bocado e voltei a costurar. as sextas feiras sentadas em cafés com o objetivo de discutir formalidades e que terminam com a cliente imitando flatos vaginais com a ajuda de um canudo de bubble tea trazem risadas e uma estranha sensação de acolhimento. os dedos furados de agulha ao som de wolf alice viram capas de almofadas, cortinas, blazers para bonecas e a conhecida sensação de trabalho bem feito. de projeto finalizado. de algo tangível que não havia antes e agora graças a mim existe. at least something. this is good.

tenho passado muito tempo nesse quarto. removi alguns móveis, incluí outros (tenho tido sorte em brechós, e esse foi o ano de trocar a ikea pelo gumtree), tentando deixar o espaço com menos jeito de escritório (o que ele é) e mais cara de quartinho de costura de avó (o que eu gostaria que fosse). me sinto como uma ursa polar preparando a toca para longos meses de hibernação. é difícil fazer meus amigos solares entenderem o quanto essa época me contempla e faz bem; os demais ursos, no entanto, sacodem a cabeça numa compreensão cúmplice – if you know, you know.

ainda muito clutter a ser eliminado. já comprei caixas gigantes de plástico transparente; falta a coragem para enchê-las e despachá-las para o sótão. desisti da idéia inicial de despachá-las para o lixão comunitário porque minimalista sim, desapegada nunca. 2018 tem sido o ano de buscar e reencontrar (ou tentar emular) pedaços de mim mesma de 10, 20, 30 (!) anos atrás. tem esse verniz de encantamento nas lembranças mundanas de outrora que parece deixar resíduos em tudo o que é concreto aqui hoje, e que precisa mais do que nunca desse brilho.

tenho passado muito tempo em casa observando as estações mudarem lá fora. tenho mudado quase que diariamente a ordem dos objetos no vão da janela; plantas, velas, miniaturas e livros. tenho deixado a biblioteca fechada só pelo prazer de abri-la uma vez ao dia e ser recebida pelo aroma antigo dos nossos livros. não compartilhei muito do outono aqui, mas tenho colecionado folhas de tamanhos e cores diferentes e deixado secar entre páginas de revista. um dia talvez virem um quadro; pedaços de vários outonos eternizados sob o vidro. um dia talvez sejam pedaços mundanos de um passado distante vistos sob o verniz nostálgico do tempo graças à minha incansável curadoria de memórias. vai ser bom tê-las guardado.

eu tenho um sótão grande. eu sempre tive.