I’ll see you in Heaven if you make the list

Me preparando para um reveillon anti-climático e boring.
Esse ano o cinza que vejo pela janela é tão desconsoladamente cinza… Não um cinza pesado, fúnereo, cor de chumbo. É um cinza mais ou menos, que já perdeu a vontade de ser cinza, de ser qualquer cor, de ser qualquer coisa. Se eu pudesse nomear esse tom particular de cinza, chamaria de “depression grey”.

That ain’t helping. A programação da TV ain’t helping.
O dia está com cara de segunda feira, e quando penso nisso acho graça porque né, hoje é terça. É praticamente segunda feira mesmo, o que acaba com as chances dessa minha observação soar pelo menos irônica.

Maioria dos meus amigos está igualmente desanimadae planejando dormir cedo. Parece que todo o resto do facebook está planejando acontecimentos e comidas. Eu acabei de terminar uma latinha de Pringle’s.

Estar no Brasil também não seria confortável em termos de calor. Passei dois reveillons com Respectivo lá; o primeiro foi aceitável, num bar em Copacabana, mas foi também o ano em que os fogos foram prejudicados por uma nuvem de fumaça. Não que eu tenha me importado. Mas ainda assim um rápido olhar à volta e era só um bando de gringos jantando churrasco e bebendo demais, sem ter assunto com as “acompanhantes”. Cometemos o erro de voltar pra casa no dia 01 e é óbvio que não tinha condução. Imagine começar o ano tendo o prazer de suar esperando ônibus na Central do Brasil?

O segundo foi em Búzios e falhou ainda mais. Calor (a gente mal aguentava deixar o ar condicionado do hotel) e na noite de ano novo fomos parar numa festa que REALMENTE não funcionou. Improvisada, (des)organizada por gente desonesta, acabou a comida e a bebida antes da hora, música ruim (ou música nenhuma) e a única parte levemente aceitável foi ter visto os fogos na praia – mas tive a impressão de que teríamos visto melhor de outros lugares. Fiquei feliz quando chegou a hora de ir pra casa, mesmo que tenha custado caro estar ali.

Gostei do ano que passei em Dinan. Foi uma solução de última hora, porque as passagens para o destino preferido (Praga) estavam escassas e havia sério risco de não ter nada pra fazer lá. Na França fazia um frio tolerável, a cidade era uma graça, tínhamos mesa reservada para uma recepção num hotel onde a comida estava abundante e ótima. Para melhorar, horas antes resolvemos ir passear numa Ikea (don’t ask) e bateu a fome;  já era fim da tarde e, como não queríamos estragar o apetite para a noite, compramos o famoso cachorro quente de cinquenta centavos + uma coca cola. Sabe quando um lanche é a medida CERTA para sossegar o seu estômago e esquentar a sua alma?

Na infância/adolescência o ano novo variava entre passar comendo em casa (às vezes subindo na laje pra tentar ver os fogos mixurucas de subúrbio), passar com algum namorado me sentindo até feliz ou totalmente deslocada, passar esquecida para trás pelos amigos que DEVERIAM ter vindo me buscar, passar sozinha com uma bacia de pipoca no colo espremendo o controle remoto até achar algo assistível na TV aberta, passar dormindo… Houve noites OK, mas acho que nunca houve uma realmente fabulosa. Talvez somente aquelas onde eu, pequenina demais para a volumosa saia amarela que minha mãe tinha costurado especialmente para a ocasião, sentava no quintal bebendo Keep Cooler de morango, ouvindo o barulho dos rojões e dos vizinhos passando na rua e gritando FELIZ ANO NOVO BOAS ENTRADAS PRA SUA FAMÍLIA uns para os outros e eu pensando que tudo era exatamente como devia ser e como sempre seria.

Tenho mixed feelings quanto a essa data.
Na infância eu dizia preferir ano novo ao de natal, por ser “mais animado”. Realmente não sei o que eu estava pensando. Hoje eu definitivamente prefiro o Natal. Que pelo menos tem uma back story, umas desculpas para existir, umas luzinhas coloridas, árvores cheias de bolinhas, comidas típicas, músicas tradicionais, filmes que a gente curte assistir… Você se distrai com os periféricos e pode esquecer do hardware: toda aquela lenga lenga de família reunida + nascimento de cristo. Ano Novo? Se você não tem uma(s) garrafa(s) de champanhe na mão e nem está rodeado de gente, é uma noite como qualquer outra.

Estou com uma vontade estranha de entrar num ônibus para o norte, mas sem intenção de participar do Hogmanay. Eu sei que viradas não existem, que “anos” não existem e são apenas maneiras didáticas de cronometrar a passagem do tempo (e dependem do calendário que você estiver usando… o ano novo dos chineses, por exemplo, não começa amanhã), mas acho que a única forma de efetivamente ficar alheio a essa expectativa por celebrar é estar cercada de estranhos solitários e adormecidos dentro de um ônibus interestadual, torcendo pra que nenhum deles acorde com o barulho de eventuais fogos ao longe e tenha a infeliz idéia de levantar a voz para desejar a todo mundo um feliz ano novo.

This is England. Would that be unlikely?

E quando penso que pelo menos isso acaba logo, me lembro que ainda tenho o feriado do dia primeiro pra aturar. Haja comida.

Mas podia ser pior. Muito pior. Terminando 2013 viva, todos os pedaços no lugar, todos os queridos vivos e com todos os seus pedaços no lugar. Vou ali tomar o último banho do ano e descer pra comer coxinha com catupiry e estourar a minha Moet. Porque hoje é dia de resignação, bebê. ♥

A menina do dedo quase verde.

Terminando o ano numa paixão avassaladora pelo verde. ♥

Projeto: me livrar dos potes e vasos coloridos e trocar por terracota, pôr os livros na biblioteca e comprar um armário decente.

Até que estou me surpreendendo e cuidando bem delas.
Até agora só matei uma alpina – quer dizer, ela morreu porque eu passei um mês no Brasil e o jardineiro encarregado esqueceu que ela existia.

Oh well. Back to the garden center, then. ;)

A Merry Little Christmas.

Chega essa época e começam a pipocar pelas redes sociais, jornais e revistas aqueles guias sobre “como sobreviver às festividades de fim de ano” e eu me sinto meio excluída da brincadeira porque nunca passei por nenhum perrengue natalino digno de merecer um tutorial de sobrevivência. A minha única preocupação era decidir se valia a pena perder o especial de Natal da Xuxa (sempre uma incerteza, mas o talking point do dia seguinte) para poder assistir alguma reprise de Scrooge (sempre uma garantia de divertimento). Minha única fonte de irritação era a maldita canela que minha mãe insistia em polvilhar sobre as rabanandas. O “chocotone” ainda não tinha sido inventado e, portanto, não corria o risco de chegar à minha mesa – frutas cristalizadas são para os fortes; os losers apelam pro chocolatinho. :)

Por falar em panetone, já tentaram fazer torrada com as fatias? E rabanada de panetone?

Yummo.

Natal = música + comida. ♥ (e ok, televisão)

Nossa família fragmentada (e dividida em facções de idéias violentamente opostas em questões básicas como por exemplo “seria certo roubar dinheiro da gaveta do meu tio?”) quase nunca se reunia nessas ocasiões. E assim sendo eu não tenho no currículo momentos embaraçosos com parentes (cujo nome ou relação sanguínea eu ignorava) me sabatinando quanto ao meu status de relacionamento no facebook (“como assim, ‘it’s complicated’? O Gustavinho, aquele menino tão bom…”) e aquela indireta vaga que eu soltei no twitter em 1989 (“aquilo foi pra mim, né? Você nunca vai admitir, mas tem meu nome inteirinho escrito nas entrelinhas daquela patada!”)

É claro que ajuda bastante o fato de a internete só ter começado a se difundir no Brasil no fim dos anos 90. Eis a minha adolescência (mais ou menos) salva.

Sei lá, não compreendo a dinâmica da coisa. Não entendo o Natal tendo que ser esse eterno “dia da marmota”, populado ano após ano pelo mesmo tio do pavê, pelas mesmas tias indiscretas querendo relatório da vida sexual dos jovens, pelo mesmo pai reaça fazendo discurso contra a pouca vergonha desses travestis, pelo mesmo cunhado bêbado que vai fazer vergonha e vomitar em cima da árvore de natal, pela mesma mãe irritada e estafada por ter organizado tudo sozinha e que vai aproveitar a hora dos brindes para fazer um discurso amargo feito o vinho barato que o pai miserável comprou no Guanabara, pelos mesmos adolescentes que vão passar a noite catando as passas da farofa, dedando violentamente na tela do celular: “ai que saco, todo ano é a mesma coisa”, clicando em “post” e dando reload na página para contar os likes enquanto rezam praquilo tudo acabar logo e sobrar bolinho de bacalhau.

É isso mesmo? Really?

Pra que reunir essa turma? Por que repetir essa tortura anualmente? O conceito de família nuclear (ou seja, só os MAIS CHEGADOS, sabe) é uma coisa tão bonita. Certamente mais bonita do que encher uma sala de pessoas cujos santos não combinam porque a idéia é repetir na vida real aquela mesa para doze pessoas do comercial da Sadia. Mas se você olhar direito, no comercial da Sadia não há dois cunhados que se odeiam trocando farpas cada vez mais afiadas e sangrentas enquanto as respectivas esposas choramingam em cima da salada de batata e põe a culpa numa recém adquirida alergia à cebola.

A vida real não tem roteiro de agência de publicidade premiada.

O Natal não precisa ser assim. War is over if you want it.

Se é tão ruim, por que não se libertar? Se a coisa chegou nesse nível, fugir de casa por uma noite me parece uma saída digna. Ceia coletiva na rua com os amigos, que tal? Cada um traz um McLanche Feliz amanhecido e garrafas de vodka. Qualquer coisa é melhor do que se resignar a aumentar essa coleção de memórias ruins. Pai e mãe depois perdoam e esquecem a rebeldia. Vocês não vão esquecer o trauma.

Criem pelo menos UMA lembrança realmente boa dessa época. Nada mais triste do que ter uma data no calendário destinada a evocar apenas sentimentos ruins. Já basta os inevitáveis, associados à perda de pessoas e bichinhos queridos. Não deixem uma coisa tão desimportante como o Natal se transformar nesse fardo. Ter que comer pelo menos uma fatia do bolo de nozes da tia Ofélia para ela não ficar sem graça já é complicado o bastante.

Há dois anos eu estava no Rio e optei por passar o ano novo sozinha em casa, comendo empadão de frango e tentando achar alguma coisa assistível nos canais da Sky. Na frente do apartamento da minha mãe tem um posto de gasolina Ipiranga e um puteiro. O puteiro estava fechado, é claro. Putas tem família, e seus clientes também. Ou talvez não. À meia noite, enquanto o foguetório amador iluminava os céus da cidade, eu fui para a janela e os frentistas do posto estavam dançando no pátio e se abraçando. Um cliente que havia parado o carro pra abastecer deixou o volume no máximo, fornecendo a trilha sonora da festinha. Até quem não teve folga do trabalho se diverte mais do que quem faz “lista de como sobreviver às festas de fim de ano”. Reflitam, sortudos.

(É eu tenho duas árvores de Natal. Não me julgue. A menor serviu de substituta ano passado quando a grande estava empacotada num galpão esperando a mudança, e não tive coragem de jogá-la fora.)

Tios, tias, avôs, avós, cunhado(a)s: por favor, considerem a possibilidade de serem menos pau no cu em 2013. E nos anos vindouros. Acredite, vocês NÃO precisam saber com quem sua sobrinha está saindo, ou onde seu neto está trabalhando. Não transformem essas conversas de elevador para passar o tempo num relatório de cobranças. Perguntem aos jovens quais seriados eles acharam mais legais em 2013. Perguntem se recomendam algum livro, se têm dicas de aplicativos bacanas para melhorar as fotos. Contem a eles que vocês fizeram conta no Tinder. Elogie o cabelo roxo da afilhada de 15 anos; afinal, essa é a idade perfeita para ter cabelo roxo. Passe receitas para os mais prendados, conte piadas sujas para os mais saidinhos e histórias de quando você conheceu o vovô para os mais românticos. Faça a receita preferida de alguém. Evite dar o seu pitaco sobre atualidades polêmicas se você SABE que não está na mesma onda que os demais. Você não vai mudar a opinião de ninguém e seu discurso raivoso só vai causar indigestão – esse peru seco + farofa não ajudando na causa. Existe tanta coisa melhor para se falar. Que tal, também, aproveitar o dia para mastigar e OUVIR?

Jovens, considerem se aperfeiçoar na arte de escutar sem prestar atenção. É apenas uma pergunta besta sobre o raio da sua namorada. Aquela que você não tem ou aquela que você não quer; DAÍ vem a sua irritação, convenhamos, e não da pergunta em si. Mas imagino que, caso quisesse e tivesse uma, você não teria problemas em falar sobre ela. Muito pelo contrário. Aposto que se tivesse acabado de passar no vestibular adoraria mostrar o recorte do jornal com o seu nome na lista de aprovados. Ou que estaria entusiasmado falando do seu novo trabalho, caso tivesse um. Então não vista a carapuça de loser, not yet. Não se ofenda. É apenas uma tia entediada e curiosa, que por acaso não tem culpa de as coisas não estarem dando muito certo pra você nesse momento – e não o Grinch que acabou de destruir o seu Natal, mimimi, comosufro. É. só. uma. pergunta. Responda (vale mentir, em nome da boa convivência e do encurtamento da prosa; ao invés de reclamar com antecedência no twitter comece a ensair as mentiras perfeitas) e mude de assunto.

Ou de família, caso eles sejam de fato insuportáveis.

O McDonalds abre amanhã. Corra antes que os lanches felizes esgotem.

And have yourself a merry little christmas now. ♥

Lewes at Christmas

De vez em quando gosto de ir bater perna em Lewes, uma pequena cidade escondida entre colinas pertinho de Brighton e cheia de antiquários/flea markets.

Galhinhos de mistletoe à venda; a tradição manda que se duas pessoas passarem embaixo deles ao mesmo tempo elas devem se beijar. Realidade: rapazes que beberam além da conta segurando os galhinhos nas mãos e correndo atrás das meninas. :/

Rapaziada cantando na rua e quis ter feito uma foto melhor porque no grupo havia um ruivo que, apesar de não ser nem um pouco notável musicalmente, talvez agradasse às leitoras brasileiras – os ruivos daqui deveriam saber o sucesso que que fazem no Brasil.

Coelhinhos deliciosamente kawai-cafonas.

E esse camarada com uma coruja no meio do rua. ♥

Santa Lucia

Quarta feira foi um dia “produtivo”: pintei a metade do quarto de azul. Eu queria cinza; respectivo preferia azul. E como sou eu quem compra a tinta nessa casa, comprei um blue-gray (azul acinzentado) porque o segredo de um casamento feliz é fingir que aceita e no fim fazer o que você quer. Risos.


Começou a temporada de loucura natalina coletiva na bretanha. Eu adoro Natal, mas tenho preguiça dessa histeria classe média de “fazer o Natal” – basicamente comprar presentes para TODAS as pessoas com quem elas um dia já esbarraram na vida. O comércio agradece, só que eu, uma pessoa normal que só precisava comprar uma simples PRATELEIRA, tenho que aturar filas quilométricas e falta de estoque (“só em janeiro, senhora… esse item está sendo muito procurado nessa época do ano…” what, uma PRATELEIRA??) porque todo mundo resolveu que a casa tem que estar nos trinques para a chegada de Santa Claus. Ho ho ho.

Não ia ter prateleira, mas fui assim mesmo para a Ikea comprar armários para o closet e acabei tendo uma surpresa agradável. Chegamos por volta das seis e meia, com fome e nos encaminhamos para o restaurante, onde eu tristemente planejava pedir as almôndegas com salada, mas sem batata. Havia um furdunço diferente na entrada e notamos a presença de lindas moças em longos vestidos brancos com uma fita vermelha servindo de cinto e coroas de flores na cabeça. Uma delas usava uma coroa de velas acesas e foi quando eu me dei conta de que estávamos diante de uma celebração de Santa Lucia – tradicionalmente comemorada na Escandinávia (a Ikea é sueca).

Fomos informados de que o restaurante não estava funcionando da maneira habitual aquela noite, mas que pela bagatela de cinco libras poderíamos participar de um bufê especial – ou seja, rango liberado. :) Compramos os bilhetes, entregamos para uma das Santas Lucias e ganhamos um sacolinha de brindes (contendo bolas e velas natalinas) + um copo de uma bebida de maçã com gosto de especiarias, como cravo, canela, noz moscada, etc. Uma delícia, por sinal.

As sacolinhas de presentes.

A bebida de maçã. Compramos uma garrafa, é claro. ;)

Escolhemos uma das mesas, decoradas com festão, toalha com fios dourados, bolinhas de natal e luminárias made by Ikea.

Como fomos uns dos primeiros a chegar não tivemos que esperar muito na fila do bufê. Havia vários tipos de entradas (frios diversos, ovos recheados com caviar, salmão defumado, salame de carne de rena, queijos, peixes em molhos variados, etc), saladas, pães (incluindo o delicioso pãozinho de Santa Lucia, levemente adocicado, feito com açafrão e passas), algumas escolhas de pratos principais (almôndegas inclusas) e sobremesas e café. Enchemos as bandejas (Respectivo pegou uma cerveja e eu um latão de cidra de pêra) e fomos para a nossa mesinha ao lado de um dos janelões.

Esse bolo “crocante” da Ikea é uma maravilha. Estou seriamente considerando comprar um inteiro pro natal.

O banquete também incluiu entretenimento ao vivo: as Santa Lucias cantando músicas natalinas com acompanhamento de um rapaz simpático no violoncelo. Algumas das músicas foram cantadas em sueco. Lindo.

E tudo isso por CINCÃO, Adalberto. Gotta Love Ikea. ♥

CABO GALERA MERRY XMAS BYE

Comprei meus armários (que serão entregues hoje; na verdade a entrega foi marcada para o dia seguinte à compra, mas eu não estava disponível) + uma sheep skin para a frente da lareira + um banquinho para o banheiro + flores novas para a cozinha + um casal de BODES de pelúcia que eu estava querendo desde outubro, risos. Noite excelentíssima, que fez com que eu finalmente me sentisse na contagem regressiva para o Natal. :)

You better be home soon.

Pensei em fazer uma “retrospectiva” da minha visita relâmpago ao Brasil mas sem muito tesão por me lançar à tarefa de elaborar uma lista longa e chata de reclamações, decepções e irritações. Até que alguém me perguntou “você acha que vai voltar?” e então eu achei que devia escrever alguma coisa.

Eu costumava ir ao Brasil por causa dos meus lugares preferidos e das minhas lembranças deles. Parecia que eu só era eu mesma quando estava ali. Mas tem aquele ditado que fala que a gente nunca deve voltar aos lugares onde foi feliz, porque não somos mais aquela pessoa que viveu aqueles momentos e corremos o risco de ver a mágica acabar. Pode ser traumático. A idéia seria fazer novos momentos, em novos lugares, viver novas felicidades; mas um dos problemas que vêm com a idade é o cinismo. Era fácil ver graça nas coisas antes porque eu acreditava nelas. Hoje em dia é como se eu enxergasse a vida através de uma janela suja, depois de anos e anos de chuva + poeira embaçando a minha visão. Às vezes parece mais simples parar de forçar a vista na janela, abrir uma gaveta e pegar um álbum de fotos onde o passado foi arquivado em cores fidedignas e eu posso ver com clareza. Não que a vida esteja ruim; muito pelo contrário. As coisas não ficaram mais feias do lado de fora, eu é que perdi um pouco da capacidade de ver.

Só que ficar eternamente olhando pelo espelho retrovisor pode até ser gostoso e quentinho e reconfortante (a proverbial segurança do que é conhecido e que, por já ter sido vivido, não traz mais surpresas ruins) mas infelizmente não é muito saudável ou enriquecedor. Não tô a fim de ficar revivendo o passado com o mesmo entusiasmo de quem planeja uma viagem de férias. Não vou arrancar essas fotos do álbum, mas não quero mais que elas sejam o meu “padrão de qualidade” para fazer fotos novas. O que me faz feliz hoje não é necessariamente o que me fazia feliz ontem, e eu preciso aceitar isso. Nem vai doer, vai ser um peso deslizando dos ombros até espatifar no chão.

Aí eu não sei mais porque volto para o Brasil. Para ver meus pais, claro, mas eles podem me visitar aqui e o fazem. E então fico sem resposta, porque lá as pessoas me decepcionam, porque a presença de algumas delas me faz positivamente mal, porque o lugar é inseguro, porque a TV aberta é ruim (e os livros são caros e as tarifas de celular são absurdas e a internet lenta), porque quase tudo está custando mais do que vale, porque muita gente que valia a pena já foi embora, porque eu nem me sinto mais tão em casa ali.

Foi chato não ter tido tempo de ver algumas pessoas queridas. Mas eu me sentiria meio mal indo passear deixando meu pai deprimido em casa porque não podia sair, sem contar que eu precisava estar lá pra ajudar a minha mãe a cuidar dele. Mas enfim, os planos de visita foram realocados para o inverno de 2015, dependendo muito do que estiver acontecendo por aqui, por lá e do meu estado de espírito. Se eu sentir que não devo e nem quero estar lá, não estarei.

It’s a lovely day outside. :)

You are crazy!

Até hoje não sei se comprei esses fones porque eles são genialmente hilários ou se comprei por causa da carinha triste de sofrido do cidadão na embalagem. YOU ARE CRAZY! E ele lá, desconsolado. ISSO É BULLYING.

Comprei por empatia, para mostrá-lo que ele não é louco sozinho. ♥

Pause.

Amigos, sumi. E não voltei ainda.

Estou no Rio desde o começo do mês porque meu pai se acidentou e precisou passar por uma cirurgia na cabeça. No momento ele está acamado, ainda sem andar e precisando de cuidados em tempo integral. Ficarei aqui por mais alguns dias e volto para casa no início de Dezembro.

Meu acesso à internet tem sido errático: evito “lan houses”, roubo wi-fi liberado do vizinho, quando disponível – gostaria de aproveitar para agradecer à “Júlia” e “Adrienne” pela generosidade de não pôr senha na conexão. Obrigada, obrigada, e continuem assim por favor. :)

Sorry por não avisar antes, mas o ritmo está punk rock, pra dizer o mínimo. Não estou respondendo emails, mas estou encontrável no facebook. Papai está melhorando aos pouquinhos e estamos todos aqui nos dedicando ao seu total restabelecimento.

Só um soluço. Volto já. :)

And the wind blows.

Fui dispensada do serviço obrigatório de juri da corte.

Cheguei cedo (apesar da ventania da véspera, que fez estragos aqui no sul da Inglaterra, causou caos no sistema de transportes e prejudicou a viagem de muitos), mas não precisei falar nada com ninguém. Uma sorte, especialmente depois de ter sido destratada na segunda feira quando tentava explicar o meu caso: não posso ser jurada tendo transtorno de ansiedade, mas como eu não trabalho ou recebo benefícios nesse país, nunca achei que seria preciso ter um “crachá” (aka. atestado médico) provando a minha situação.

Estava na sala há alguns minutos, resignada. A ansiedade ainda não havia começado a se manifestar, mas eu sabia que a paz iria durar apenas algumas horas (com sorte) antes que eu começasse a me comportar de maneira errática. Já havia conseguido pegar a cadeira preferida (e necessária; costas para a parede, mesinha em frente, recarregador para os aparelhos), já havia ido ao banheiro. Estava quentinha. Eu estava escrevendo uma mensagem no celular. Foi quando ouvi meu nome; era a supervisora me chamando. Sorrisão, toda simpatia. Levantei-me e ela, ainda exibindo a sua nobre dentição britânica (sem piada, aqui; os dentes da moça são muito bons), disse “pode pegar as suas coisas!” O meu alívio começou a se manifestar no passo apressado com que a segui até o pequeno escritório; refreei a velocidade, tentando manter as aparências. Entrei cautelosa pela porta de vidro – a mesma que eu gostaria que me tivesse sido aberta na véspera, a fim de que eu explicasse meu caso sem que o resto da sala tivesse que ouvir.

Ela, simpatia vazando dos poros, avisou que meu marido havia ligado. Tudo começa a fazer sentido. E que ela sentia muito pelo que estava acontecendo com o meu pai. E que por esse motivo ela ia me dispensar do serviço. Totalmente. E eu, triste e ansiosa como estava, senti minhas mãos aquecerem (sem o suor e a palpitação do dia anterior, no entanto), meus músculos relaxarem. Alívio. Me fez assinar uns papéis de presença, me pediu de volta o cartãozinho da merenda, desejou boa sorte e me disse tchau.

Nunca um adeus foi tão doce.

Ao invés de pegar o elevador direto, desci o primeiro andar pelas escadas a fim de conseguir fazer essa foto da janela (na véspera meu celular estava descarregado).

Old Bailey Court of Justice.
Espero, de coração, nunca mais ver você desse ângulo (ou seja, de dentro).

Próxima parada, estação de Saint Paul.
Pelo caminho, belezas:

Metrô pra casa. Central line, eastbound.
Depois de algumas estações, ele ficou só pra mim, Como isso é raro.

E ao passar o Oyster card e sair da estação, ver tantas folhas ainda nas árvores e perceber que o outono havia resistido à ventania de ontem:

Tal como eu espero resistir também.
A todas as ventanias, vendavais, tempestades e tufões. Me and my loved ones. Strenght. Faith. O alívio virá.

{ voltaremos em breve com a programação normal Tokyo Tales. :) }

Tokyo, day one

Como todos, todas e seus cachorros, gatos, papagaios e urubus sabem, eu sempre quis conhecer Tóquio. Não sei explicar exatamente o porquê; o desejo vem desde a adolescência, quando eu me dirigia à Liberdade atrás de mangás que eu nem mesmo conseguia ler e docinhos cuja beleza da embalagem era metade da razão da compra. Sempre fui fã de todos os clichês: animes, J-pop (e música tradicional, também), sushi e artes marciais (me interessei por Okinawa depois de assistir Karatê Kid II, risos). Há tempos venho tentando realizar o sonho: no ano passado estávamos enrolados com mudança, e no ano anterior eu descobri no dia em que iríamos comprar as passagens que meu passaporte estava vencido. Oops!

A maioria das pessoas talvez pense automaticamente em templos budistas, kimonos, cerimônias do chá e monte Fuji ao imaginar a terra do sol nascente. Já eu penso nessas coisas também, mas só depois de pensar em letreiros luminosos, gothic lolitas e Harajuku girls, gadgets adoráveis, tempura e tonkatsu, cafés temáticos, mochis coloridos, miniaturas, Hello Kitty, J-pop e Blythes, Pullips, BJDs… Tóquio é a minha idéia de Disney. Eu amei tanto a cidade que depois de uma semana tive que conjurar coisas como saudades da minha cama, do meu banheiro e da minha gata para conseguir me arrastar até o aeroporto e voltar para casa. Na maior parte do tempo a situação era I NEVER EVER EVER WANT TO LEAVE!, nível colocar “procurar imóveis para alugar em Tóquio” nos lembretes do iPhone. Nem o preço e o tamanho dos apartamentos me fez desistir.

Então vou me desculpando com quem esperava um relato cheio de paisagens bucólicas e dragões de pedra, mas a vibe aqui vai ser Modern Japan – ou GYARU GOING WILD ON CANDIES. ♥ Não tivemos tempo de ir a Kyoto, mas na próxima viagem ficaremos o dobro do tempo para caber um shinkansen (o famoso trem bala) e ir conhecer o countryside. E sim, no outono novamente. Não ligo muito para o hanami (o festival das cerejeiras em flor, na primavera) porque tem bastante cherry blossoms na Inglaterra; já os maples japoneses vermelhinhos… Ter ido em Outubro nos permitiu testemunhar o halloween craze e é divertido ver o quanto os japoneses aparentemente se empolgam com esse feriado tão “importado” e afastado da cultura deles. Vi muito mais displays de halloween em Tóquio do que em Londres.

Disclaimer rápido: os meus relatos de viagem são apenas uma maneira de guardar imagens (a maioria de celular) e momentos, e não fazer um “guia turístico” ou ter a pretensão de mostrar “como o Japão e os japoneses são” – sempre reviro os olhos quando vejo blogs de viagem fazendo isso porque afinal a gente passa uns DIAS no país e não sai de lá apto a escrever enciclopédias sobre cultura e comportamento. Isso aqui é a minha impressão e as coisas que eu apreciei; as suas podem ser diferentes, então não tomem por lei nada que eu disser e, se alguma bobagem for dita, agradeço que me corrijam, okie? Good.

As coisas não começaram muito bem, não. Respectivo me acordou cedo, mas esqueceu de dizer que teríamos que sair em uma hora. Dei uma lesmada na cama, fui ao banheiro, analisei a situação do que ainda teria que terminar de pôr na mala e só quando ele anunciou “TRINTA MINUTOS PARA SAIR!” eu me dei conta de que OH, SHIT! Resultado: saímos de casa meia hora atrasados, o que foi suficiente para pegar todo o engarrafamento matinal da M25 e da North Circular. Foi uma viagem longa e tensa até o aeroporto, cheia de buscas desesperadas por atalhos e Respectivo nervoso, berrando a cada 20 segundos “I DON’T THINK WE’RE GOING TO TOKYO!” e eu tão chocada pela possibilidade que nem conseguia chorar.

Chegamos em Heathrow no exato momento em que o vôo fechava. Só não desesperei porque há meia hora estava me acostumando com a idéia de que iria perdê-lo. Fomos para o balcão de atendimento ao consumidor e é nessas horas que eu agradeço pela British Airways; fomos prontamente realocados no vôo da tarde para Narita, sem custo extra, sendo que a companhia não tinha a menor obrigação de fazer isso (estávamos inclusive usando milhagens). Agradecimentos à BA por tratar seus clientes com empatia e compreensão ao invés de apenas fontes ambulantes de dinheiro (hello, FlyBe e Ryanair).

Esse foi o café da manhã MAIS RELAXANTE da história da humanidade. Depois de todo aquele thriller, sentar pra comer esses teacakes tostadinhos com manteiga e geléia + um latte cremoso foi o mais perto que eu já estive do paraíso enquanto sentada num pub de aeroporto. Fizemos uma horinha perambulando pelo duty free (quem diria que depois de toda aquela correria a gente ia acabar tendo tempo pra matar? Até comprei uma mochila Cath Kidston super leve e que se provou super útil na viagem) aguardando a hora de fazer o check-in. O avião decolou pontualmente no começo da tarde e 12 horas depois descemos em Tóquio – no final da manhã. Haja jet lag…

Primeiro contato com um “washlet”, o vaso sanitário ninja que lava suas partes (frontal e traseira) e em alguns casos até seca e desodoriza. O “som” é um barulhinho fake de descarga, porque as japonesas aparentemente costumam ter vergonha dos, erm, “ruídos” que a gente faz no trono e acabavam dando descarga o tempo todo para disfarçar, desperdiçando água pra caramba. Daí temos esse botãozinho mágico que faz só o barulho, resolvendo o momento awkward de maneira ecológica. Não é lindo?

Primeiro display de “fake food”, ainda no aeroporto.

Depois de recebermos orientação (em inglês) de uma simpática funcionária do aeroporto, pegamos um Skyliner Express direto para o centro, o que levou menos de 40 minutos em absoluto conforto vendo casinhas, rios, florestas e montanhas pelo caminho. Descemos na estação de Nippori e de lá pegamos uma conexão para Akihabara, onde ficava o nosso hotel. Uma das primeiras visões que se tem da área é o IMENSO prédio da Yodobashi, uma loja de departamentos tamanho mamute com oito andares (sem contar os subterrâneos) de informática, eletrônicos, celulares, eletrodomésticos, beleza, papelaria e brinquedos, coberta de letreiros e led displays luminosos na fachada. Foi ali que a ficha de que eu estava mesmo em Tóquio começou a cair. Nosso hotel ficava logo ali pertinho da Yodobashi e da estação de Akihabara. :)

Várias pessoas me aconselharam a não perder tempo nesse distrito, conhecido por seus outlets de eletrônicos; e como eu não estava a fim de comprar iPads ou câmeras quase evitei, mesmo. Porém a cidade estava lotada, sem vaga em nenhum dos hotéis nas áreas que queríamos (só os muito caros tinham disponibilidade) e o APA Akibahara-Ekimae foi o mais “barato” e centralmente localizado que encontramos – com direito a wi-fi no quarto.

Surpresa: ter ficado ali acabou sendo a melhor coisa, porque Akihabara é totalmente a Tóquio que eu esperava e queria: colorida, agitada, ruas cheias de gente jovem circulando até tarde, restaurantes, bares, cafés (incluindo muitos “maid cafés”; falamos disso em breve), livrarias, LOJAS DE BRINQUEDO ♥ e de videogames vintage, de anime/mangá, model kits e todas as tralhas/cacarecos japoneses que fazem meuzolhinhos brilharem. Pra quem é da tribo otaku, ou geek, ou ainda interessado em cultura pop japonesa, Akihabara não é nada menos que um ponto de peregrinação obrigatório. Para ter uma idéia tinha uma loja da Volks e outra da Azone a alguns minutos do nosso hotel. MONEY PITS, EVERYWHERE. :/ Obviamente percebe-se que eu só entrava no hotel pra dormir…

Anime por toda a parte. Cavaleiros do Zodíaco no trem:

Outra vantagem é que Akihabara está na JR Yamanote, uma linha de trem circular que cobre diversas áreas centrais de Tóquio. Em meia hora eu estava em Harajuku/Omotesando, por exemplo, sem ter que trocar de trem e pagando apenas 190 yens. Em se tratando de transporte muitas vezes eu optava pelo caminho mais simples (sem baldeação) mesmo que fosse um pouco mais longo, porque entender o sistema de transporte pode levar tempo. Não existe apenas uma companhia de metrô, como em Londres ou o Rio; existem várias e cada uma cobra um valor diferente, que também muda de acordo com a distância do trajeto. Sem mencionar os trens, que partem das mesmas estações que o metrô. E como todos os mapas com preços são em japonês, você acaba ficando no escuro e tendo que fazer malabarismo para descobrir o valor necessário a pagar. Então digamos que a Yamanote foi uma mãe quando podíamos usá-la. :)

Seguuuuuuuuuuuuuuuuuuuura, peão!!!

Não existem zonas de preço claramente demarcadas (em mapinhas em inglês…) para ajudar o turista. Para facilitar você pode comprar um passe diário (que é meio caro; cerca de 10 libras) mas permite ao turista usar todas as linhas de metrô e trem em todas as zonas, sem stress. Pra quem vai visitar vários lugares no mesmo dia vale muito o preço, porque economiza tempo e o stress em lidar com um sistema que não é exatamente “tourist friendly”. Táxis estão disponíveis; não achei extremamente caros mas também não são baratos, e com os engarrafamentos comuns na cidade podem acabar custando uma fortuna. Pegamos uma vez só, para cobrir uma distância pequena, e a corrida saiu pelo mesmo preço do bilhete diário “all areas”. No brainer.

Deixamos as malas com a simpática mocinha da recepção (ainda não era hora de fazer check in) e fomos esticar as pernas e reconhecer a área. Primeiro passo foi dar uma fuçada rápida no shopping que fazia parte da estação e também na Yodobashi, já que ela estava ali mesmo…

Pessoa nem vai comprar câmera, mas resistir, quem há de?

Nesse momento acima, enquanto me afogava em centenas de fitas adesivas de papel washi, eu lembrei dazamyga fãs de scrapbooking e FBs e RIALTO. De nervoso. So many options, so little time…

Pra quê colocar uma modelo ou celebridade sem graça na embalagem da sua tinta de cabelo se você pode colocar uma BLYTHE, não é mesmo, minha gente? ♥

E chega então aquela hora tão feliz: a de comer. Assim que entramos num restaurante, TODO o staff (até o pessoal da cozinha) começou a berrar alegremente em japonês e eu levei uns segundos para entender que estávamos sendo saudados. Pelo que entendi é hábito que os fregueses sejam recebidos dessa forma (os decibéis e o tamanho do coral variam de acordo com o estabelecimento) como forma de demonstrar que estão sendo reconhecidos e valorizados. Quando você vai embora a gritaria se repete. Um amor. ♥

Recebemos nossos menus (em inglês) e copos de água com gelo: também é hábito prover a mesa com refis de água gelada grátis e aquelas toalhinhas umedecidas em água quente, para que as pessoas limpem as mãos. Assim que fizemos a nossa escolha tocamos uma campainha para chamar a atenção do atendente, que veio CORRENDO em nossa direção. O staff é atencioso sem ser pegajoso; servem de forma eficiente e educada, sem ficar se arrastando em frente à mesa perguntando se “está tudo bem”, se você “já terminou” ou enchendo a seu copo sem que você peça – o que eu particularmente detesto. Não é comum dar gorjetas no Japão, então ninguém tem que fingir puxar o seu saco por causa de grana. A atenção com que você é servido é genuína.

Primeira refeição completa na área, um belo prato de tonkatsu (porco empanado cortado em tirinhas) ao molho curry com arroz japonês. Estava delicioso e o prato custou cerca de 6 libras. Tomamos também uma cerveja Kirin. Só me arrependi de ter comido todo o arroz, porque já não estava tão acostumada a ingerir carboidratos em grande quantidade e me senti pesada. Não foi culpa da comida, no entanto, e eu recomendo a CoCo Ichibanya Curry House: não é um lugar sofisticado, tem clima de boteco mas você será bem atendido e o menu em inglês com fotos é bônus em qualquer lugar. Ou então você poderá examinar réplicas perfeitas do que está disponível no restaurante já na própria vitrine, se houver um display como esse aqui (que estava na entrada de um maid café local):

Essas “panquecas” abaixo também era super populares, mas juro que não as entendi. Pareciam fatias de pão de forma empilhadas, com coberturas diversas de sorvete, chantilly, frutas, mel e biscoito. Talvez sejam brioches, mas o ponto é: depois que você come a fatia de cima, tem que comer as de baixo puras, sem nada? Eles dão mais chantilly? Mistério para ser solucionado numa próxima visita à cidade, porque nessa não sobrou espaço para isso tudo aí não.

Por falar em menu/comida nós não tivemos muitos problemas. Alguns lugares têm menu em inglês, mas a maioria tem apenas a versão em japonês com fotos; é olhando pra elas que você escolhe, e é apontando que você pede a comida. Não é tão awkward como parece, os atendentes parecem estar habituados.

Devo dizer que fiquei positivamente chocada com a qualidade do atendimento no Japão. Não somente em restaurantes, mas em qualquer estabelecimento, pequeno ou grande. Você entra e é saudado, você pede alguma coisa e eles correm pra atender, você leva a mercadoria para pagar e o caixa sorri e fala com você o tempo inteiro (você não vai entender nada, apenas retribuir o sorriso e balançar a cabeça, mas é fofo), depois aponta com as duas mãos o valor a pagar na tela da máquina registradora, entrega o seu troco e a mercadoria também com as duas mãos e uma reverência. Não importa se você comprou um laptop ou um rolinho de fita adesiva, o tratamento é exatamente o mesmo. Retribua tanta gentileza com o mínimo: não esqueça o konichiwa (olá), o sumimasen (com licença) e o domo arigato (muito obrigado). Sorria sempre e NADA será um problema; eles farão o que puderem para atendê-lo bem. Achei que as pessoas, ao contrário do que acontece em vários lugares do mundo, não demonstram ter vergonha ou ressentimento por servir. Muito pelo contrário.

A cidade também possui vários estabelecimentos como esse aí em cima; mini-botecos que consistem apenas de um balcão (atrás do qual o cozinheiro prepara a comida) e uns quatro ou cinco banquinhos para os clientes. Geralmente ficam próximos a estações de trem e a rotatividade é grande: você deve comer e sair para liberar o lugar; nada de conversinha, outra cerveja ou um café. O preço costuma ser mais em conta; tinha prato completo incluindo a sopinha misô por 500 yens e se você não se incomoda com a relativa falta de conforto e nem com a certeza de que NÃO vai encontrar menu em inglês (vai ser difícil TER menu… aponte pras fotos na parede) é uma boa opção pra comer bem e pagar pouco.

E lá fomos nós queimar as calorias do curry saracoteando pela night iluminada e multicolorida de Akihabara… J-pop em alto volume saindo das lojas, adolescentes abraçados a travesseiros no formato de heroínas peitudas de anime tentando pescar brindes em maquininhas eletrônicas, gente cantando em karaokês, bares onde se pode jogar RPG nas mesas despejando meninos nerds e fofos pelas calçadas carregados de sacolas contendo mangás ou indo para a Super Potato jogar videogames vintage – Virtual Boy, anyone? :) Tem até um Gundam café!

Aí em cima os letreiros na entrada da Maidreamin’, um dos vários “maid cafés” que se espalham por toda a parte. As mocinhas ficam na calçada vestidas de “governantas francesas” distribuindo folhetos para os passantes, convidando-os a entrar. Elas são todas mignon, parecem bonequinhas de anime, falam com voz fininha e são adoráveis; a vontade de pegar meia dúzia delas, enfiar na mala e levar pra casa beira o irresistível.

Ao entrar você encontra um café como qualquer outro, só que as mocinhas vestidas de maids (iguais às que estavam lá fora atraindo a clientela) vão fazer dancinhas, te chamar de senhor ou senhora, sentar na mesa para conversar, desenhar bichinhos na espuma do seu cappuccino com cobertura de chocolate, enfim… fazer o cliente se sentir importante e desfrutar da companhia de uma moça alegre e bonita que vai tratá-lo bem. Meio machista, mas enfim, I won’t judge. Todo mundo parece estar se divertindo. Os meninos, claro, não podem tomar liberdades ou sequer tocar qualquer parte do corpo das moças; tudo acontece num ambiente descontraído, porém de absoluto respeito. Eu achei que as maids são as equivalentes modernas e mais low profile das tradicionais gueixas, voltadas para o mercado “adolescente otaku” ao invés dos ricos executivos que podem pagar pelas companhia das belas mulheres que treinam música, dança e entretenimento por anos e anos.

Decidimos tomar uma cerveja e fomos parar no Tofuro, um restaurante de culinária edo que ficava quase ao lado do hotel. Cervejinha estilo lager feita por eles mesmos, e esse pratinho cortesia com umas coisas que eu estou tentando identificar até hoje… Reconheci algas, a bolinha verde que parecia ervilha e algo vermelho que lembrava uma goji berry. As coisas que pareciam ser carne eu não faço a menor idéia do que sejam. Mas como era cortesia e tava gostoso, peguei os meus hashis e fui.

Depois de passar alguns minutos mesmerizada com a “cabeça de peixe falante” no cartaz abaixo, resolvi pedir uma outra bebida. Era uma espécie de licor de morango com leite e estava muito gostoso – só que não havia traço de álcool no licor. Vai ver eu entendi errado e nem era licor e sim syrup. Whatever. Down in one… gulp!

Well, por hoje é só! Em breve (I hope) a segunda parte da mini-maratona oriental. :)

Glad to live in a world where there are Octobers.

Eu sei que sou a Doida do Outono, you don’t have to tell me. :)

É a minha estação preferida, seguida da primavera. O inverno é chuvoso e escuro e longo, o verão na cidade (sem a brisa do mar e da temperatura mais clemente de Jersey) é quente, a luz matinal invadindo a janela antes das seis e se esfregando na sua cara sonolenta. Mas não reclamo. Podia ser pior. Podiam ser os 45 graus e a umidade assassina do Rio de Janeiro…

Prefiro as estações intermediárias, do “começo” da mudança – ao invés da mudança full-blast with lasers. A primavera sendo uma espécie de renascimento das cores, das flores, da luz, de tudo o que é vivo depois de quatro ou cinco meses de árvores peladas, mortas e chão coberto de gelo e lama. Faz bem para a alma depois dos rigores do inverno e da sua pele ressecada pelo aquecimento central. O outono é o começo dos dias mais curtos, das cores mudando nas árvores, da expectativa de voltar a usar casacos e gorrinhos e echarpes e tomar chocolate quente na frente de uma boa lareira quando você já não aguenta mais suar no verão. Mas cada estação tem a sua importância; desde a agricultura até o bem estar mental das pessoas.

Aqui o outono está só começando. Mas a temperatura já caiu um bocado e é só respirar mais fundo para sentir o ar diferente. As frutinhas (comestíveis ou não) nos galhos das árvores que ainda estão verdes. Num sábado eu vi as folhas das horse chestnuts (as primeiras a mudar de cor) ao longo da avenida principal de Woodford Green começando a amarelar e pensei, “tenho que voltar para vê-las antes que caiam todas”. Na segunda feira eu já estava lá, é foi quando fiz essas fotos. No sábado seguinte os galhos já estavam quase todos nus.

Dizem que o outono desse ano promete ser bem colorido por conta das condições climáticas: uma primavera chuvosa seguida de um verão quente e seco. Só espero que venha DIREITO – com delicadeza, e não com a chuva desabando bruscamente já no começo de outubro, cobrindo o céu de nuvens escuras e o vento atropelando as folhas das árvores e derrubando-as antes que tenham a chance de exibir suas cores e só então cair. É meio frustrante quando isso acontece, como se a natureza tivesse nos passado a perna, queimando uma etapa e levando a beleza embora antes do tempo. Tomara que esse ano escape da sanha do inverno apressadinho. Estou aqui torcendo for a proper autumn, cheio de cor e de luz. :)

The days were all empty rooms you waited in

Outubro chegou chegando. Frio nos pés, necessitei meias, não adiantaram; necessitei também sapatos.

Menos de uma semana para Tóquio. :)
Achei um hotel (apart, com cozinha e tudo) excelente e numa localização ótima. Infelizmente, dois problemas: não tem wi-fi, só wired internet. Mas o deal breaker mesmo foi não ter front-desk. A gente pegaria as chaves num local “combinado” (e isso sendo TÓQUIO, quem confia que iria encontrar?) e precisaria ficar sem a ajuda de um staff bilingue durante a estadia. Num país como o Japão, onde a maioria das pessoas não fala inglês e o idioma local para nós é indecifrável, seria bom poder contar com pelo menos algumas pessoas que pudessem socorrer em caso de apuros.

Nope, melhor pagar mais caro por um lugar mais customer friendly. Ficaremos em Akihabara, o distrito dos eletrônicos (e dos otakus…). E o hotel tem concierge, wi-fi grátis (veremos se funciona…), oferece café da manhã opcional, tem frigobar, TV e a chaleira elétrica pra fazer chá/café no quarto de manhã. Yay!

Quero comprar um chapéu bem idiota pra usar. E não quero levar muita roupa para não pesar na mala. Eu raramente viajo tendo compras em mente, mas Tóquio sendo o paraíso das tralhas, vai ser impossível resistir.

Sou péssima na hora de fazer malas; ou levo roupa demais, ou roupa de menos. Raramente acerto. Por isso dessa vez me comprometi a fazer um “lookbook” e decidir o que vou usar com antecedência – espero que o clima ajude, não virando inesperadamente do calorzinho de meia estação que está previsto para o frio de lascar. Não quero arriscar e ir com a mala quase vazia, porque comprar roupa no Japão pode ser complicado. Mas também não quero levar nem mesmo um alfinete além do que vou usar. Toda grama é preciosa. ♥

Revistinha meiga (Her Vintage Life) que eu achei na WHSmiths:

Meu pedido da Yozocraft chegou hoje:

Finding Places

É legal essa fase onde nada tem lugar fixo e você pode ficar experimentando e mudando as coisas de lugar, tentando descobrir onde elas se encaixam melhor. Como a minha avenca estava DETESTANDO morar no study, murchando e secando apesar de toda a água e carinho, eu a coloquei na sala e liberei a cômoda para outras coisas.

A parede do escritório é um lilás bem clarinho, mas sempre parece branca nas fotos.

O closet está começando a tomar forma. Mas as paredes das fotos abaixo já não são mais assim. Desde domingo eu venho pintando uma por dia. Quem adivinhar a cor ganha um chocolate.

Yup, eu comprei uma penca de gaveteiros Malm. Eles são baratos, práticos e têm um design bem clean. Eu poderia esperar anos para conseguir gaveteiros usados legais, fuçando brechós, lojas de segunda mão ou o Ebay. Enquanto isso as minhas roupas continuariam amassadas dentro de caixas de papelão. Quer saber? Malm it is. Se um dia eu ganhar na loteria dôo todos e compro outros.

Por enquanto estou só espalhando coisas aleatoriamente, na esperança de que alguma delas encontre o seu lugar. Mas esses são apenas detalhes, partes de um processo que não termina nunca e é gostoso sempre. No fim das contas, a coisa mais importante de todas já se encontra em seu lugar definitivo: eu. O resto é diversão. ;)

Not so pretty in pink

Meio sumida, lidando com problemas da vida real (computador em processo de falecimento, meu pai com labirintite caindo pela casa, a pensão não-resolvida da minha mãe) e alegrias da vida real (pintando cômodos, montando móveis e minha viagem para o Japão finalmente marcada! Embarco em duas semanas e aceito sugestões e dicas de quem já visitou, ok?) Quando sobra tempo eu me meto a fazer DIY (destroy it yourself…), nem sempre com resultados positivo.

Outro dia estava eu na BLITZ London de Brick Lane quando dei de cara com essa peça:

Na fila do caixa pra pagar, coloquei-a em cima do balcão e a menina à minha frente acariciou o couro da maleta e exclamou “I love that!”. Foi quando abri o zíper (ui!) e revelei a belezura:

Ta-da! Uma máquina de escrever vintage. Estava querendo uma faz tempo para usar nas minhas colagens/journaling e para fins de embelezamento do meu escritório. ♥ É claro que eu queria mesmo uma Royal vintage como essa, mas são quase impossíveis de achar no Ebay. E sinceramente eu preferia não ter que comprar pela internet, por medo de chegar danificada – máquinas de escrever são coisas delicadas (e pesadíssimas; o shipping é sempre caro).

Trouxe pra casa no metrô, carregando com todo o cuidado. Felizmente não era hora do rush e eu pude vir sentada com ela no colo. Testei logo ao chegar, ainda meio confusa com os “controles”; desde o fim da infância eu não brincava com uma dessas, mas todo o modus operandi me voltou de imediato assim que comecei a ajustar o espaçamento e de repente era como se eu tivesse 12 anos de novo.

TAC! TAC! Meldels, a FORÇA necessária pra disparar as letras! Anos de moleza com o teclado macio dos computadores me deixaram fora de forma… Ginástica para os dedinhos! Me perguntei COMO eu conseguia encher folhas e mais folhas de papel ofício A4 em algumas poucas horas de “inspiração” (eu escrevia livrinhos de histórias, copiava letras de música, tentava poemas, fazia meu diário…), mas aí lembrei que o preço pago pelo meu vício de datilografar eram dedos absolutamente moídos no dia seguinte. Lembro da noite que passei acordada (da novela das oito às cinco da manhã) terminando um trabalho de escola que havia deixado para o último segundo. Dia seguinte eu mal conseguia segurar o lápis (e as pálpebras caindo de sono) na aula.

Quanto à cor meio sem graça da dita cuja, well, eu tinha planos… e também metade de uma lata de Japlac rosa sobrando do espelho e gaveteiro que pintei meses atrás. :)

Não tinha como dar erro, pensei. Japlac gruda até em bosta, verifiquei. A metade da lata seria mais do que suficiente, calculei. Ok, a tinta parecia ter engrossado um pouquinho desde o último uso, mas só dar uma mexidinha e problema resolvido, right?

Right??

Wrong. Ficou uma merda. A tinta estava de fato grossa demais e deixou a pobre máquina com cara de bolo mal confeitado de padaria. O acabamento devia estar liso feito bunda de bebê, e no entanto ficou cheio de ondas feito o mar de Copacabana em dia de ressaca.

É claro que depois peguei um pincel fino e contornei esse logotipo. Mas o que afundou o barco foi a tinta, mesmo. Solução: lixar com lixa beeeem fininha para remover essas marcas, essa tinta empelotada e pintar novamente, dessa vez com tinta nova (e diluída).

More work ahead. Mas vai ficar bonita, ah se vai. Não gastei 45 pilas e carreguei você no colo pra casa com o cuidado de quem carrega o primeiro filho pra ISSO, baby.

*chora na cama que é lugar quente*
*volta pro Ebay e procura uma Royal vintage* :(